Confira as dicas do médico veterinário Diethard Pauls, especialista em Desenvolvimento Agropecuário da Lactalis. Ele traz recomendações para este período, abordando as técnicas que devem ser aplicadas para o melhor desenvolvimento e preparo do rebanho.
Dicas do Técnico
Cuidados no manejo de vacas secas
Atenção redobrada com o rebanho no verão
Com a elevação das temperaturas no verão, o produtor deve ficar alerta aos sinais de estresse calórico do rebanho. Confira as dicas da médica veterinária Nathália Weber, especialista em Agropecuária que atua no suporte técnico para as unidades da Lactalis de Ijuí e Três de Maio.
Cuidados no manejo de vacas secas
Tudo o que se faz no período seco vai refletir na próxima lactação da vaca, positiva ou negativamente. A alimentação é um dos fatores mais importantes. Nos últimos anos, a pesquisa focou mais neste período pela importância e por isso há rações e ingredientes especiais para a alimentação dessas vacas. Denomina-se de dieta aniônica, que prepara a vaca para o parto, resultando na diminuição do edema do úbere e aumentando a vida útil da vaca com um úbere mais bem ligado. Outro efeito positivo da dieta aniônica é a diminuição de ocorrências de hipocalcemia (falta de cálcio) que gera vários outros problemas e ainda reduz a retenção da placenta (secundinas) pós-parto, fazendo que a vaca retorne o mais rápido possível ao ciclo reprodutivo.
O manejo deve ser num lote separado, o ambiente tranquilo, com locais de sombra para evitar o estresse calórico, onde além da ração aniônica a vaca tem uma oferta de feno, pré-secado, silagem e água, mas com pouco pasto verde, pois o verde neutraliza a dieta aniônica. Recomendamos um lugar próximo onde a constante observação é possível.
Nos dois sistemas (extensivo e confinamento) o manejo alimentar deve ser o mesmo, mudando principalmente o lugar, onde no sistema extensivo a vaca geralmente está num piquete com maior mobilidade e a vaca confinada num espaço mais restrito, mas os dois sistemas são usados e com bons resultados.
Atenção redobrada com o rebanho no verão
O estresse calórico é um dos fatores de maior impacto econômico nas propriedades leiteiras. Entre os impactos diretos, está a diminuição da produção de leite, a queda do desempenho reprodutivo, a alteração na qualidade e composição do leite e a redução da eficiência alimentar. O estresse calórico pode resultar em um decréscimo de 17% na produção de leite de vacas de 15kg de leite/dia e de 22% em vacas de 40kg de leite/dia. Na reprodução, exerce forte influência na medida em que reduz a expressão de cio e as taxas de prenhez do rebanho, além de aumentar a mortalidade embrionária.
Em relação à qualidade do leite, os teores de gordura, proteína e lactose são reduzidos. O estresse calórico ainda compromete a imunidade do animal, aumentando a suscetibilidade às infecções, principalmente as mastites, impactando na CCS do leite.
No estresse calórico as vacas não conseguem equilibrar sua temperatura corporal, mantendo-a sob os parâmetros fisiológicos normais (38ºC a 39ºC). Em casos extremos de hipertermia, a temperatura retal pode chegar a 41ºC. Com isso, ocorre aumento da frequência cardíaca e respiratória.
A redução da ingestão de matéria seca, principalmente de forragens, associada a uma maior predileção dos animais por alimentos concentrados e a perda de bicarbonato pela salivação em excesso são alguns dos fatores que predispõe a ocorrência de acidose ruminal. Os bovinos criados em sistemas extensivos tendem a se aglomerar em áreas de sombra, reduzindo o tempo de pastejo. Em confinamentos, as vacas tendem a permanecer em pé para aumentar a área corpórea exposta para que ocorra a dissipação do calor, na tentativa de manterem a temperatura corporal.
Para amenizar os efeitos do calor, é essencial facilitar o acesso à água de boa qualidade em quantidade suficiente. Para evitar competição, é necessário que os bebedouros tenham no mínimo 15cm de área por animal. Vacas bebem 50% a mais de água no verão, ingerindo facilmente mais de 100 litros por dia. Para driblar a redução da ingestão de alimentos, deve-se estimular o pastejo dos animais em horas mais frescas do dia, fracionar as refeições e ofertar alimento no cocho durante a noite.
Outra dica é optar por uma dieta com alto teor de energia e fibra de alta qualidade e rápida digestão, que gera uma alta proporção de nutrientes para síntese de leite e diminui a produção de calor proveniente da fermentação e metabolismo dos alimentos. Pastagens tenras, silagem com alto conteúdo de grãos e concentrados ricos em gordura encaixam-se nessa categoria. Importante lembrar que sais minerais como potássio, sódio e magnésio são perdidos através da transpiração e aumento da frequência respiratória, sendo essencial, portanto, que estes sejam suplementados em quantidade adequada na dieta. O uso de tamponantes também é fundamental para a prevenção da acidose ruminal.
Medidas para reduzir os efeitos do estresse calórico são importantes para todas as vacas do rebanho, principalmente aquelas em lactação de alta produção e as vacas secas que estão próximas de parir. Estas vacas secas já têm um consumo inferior de matéria seca, e a rápida perda de peso neste estágio ocasionará distúrbios metabólicos subsequentes à ocasião do parto. Além disso, o manejo e conforto pré-parto têm uma influência profunda sobre o feto. Uma pesquisa feita pela Universidade da Flórida, nos EUA, constatou uma diferença de produção de 1.225kg de leite na primeira lactação das filhas cujas mães não foram submetidas a condições de estresse térmico nas últimas seis semanas de gestação, quando comparadas à produção da primeira lactação das filhas cujas mães foram submetidas a situações de estresse.